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“O Venture Capital tem que investir em tendências”, defende Francisco Jardim da SP Ventures Adicionado em 07/08/2020
 
O agronegócio que conhecíamos alguns anos atrás não dá conta de atender às demandas estimadas até 2050. Com o crescimento populacional e a necessidade de proteger o meio ambiente, será preciso conciliar o aumento da produtividade com a preservação dos recursos naturais. “Devemos ter 10 bilhões de pessoas no mundo até 2050 e o aumento da renda dos países emergentes tende a elevar o consumo de proteína per capta. Isso significa produzirmos mais alimentos nas próximas décadas do que fizemos nos últimos 7 mil anos”, defende Francisco Jardim, managing partner da SP Ventures.

Essa visão fez a gestora focar os investimentos nas agtechs, como são conhecidas as startups voltadas ao agronegócio. “Antes de investir em pessoas e negócios, o Venture Capital tem que investir em grandes tendências e revoluções. E quando olhamos para os números do agronegócio, vimos que se tratava de uma revolução colossal”, completa.


1. Por que a SP Ventures decidiu focar seu portfólio em agtechs?

A SP Ventures nasceu generalista, tentando replicar o modelo do Venture Capital norte-americano no Brasil. Mas logo no começo, percebemos que os discursos de empreendedores, pesquisadores e executivos de mercado convergiam. Os fundamentos do agro, em termos de crescimento e necessidade de transformação, já eram consenso. 
Então caiu a ficha: investir nas startups de agronegócio, como agentes dessa transformação, era a melhor oportunidade para nós.

A oportunidade que enxergamos era de uma mudança bruta de escala de produção. Teríamos que dar um salto de produtividade, mas mudando a forma como a gente produz, buscando mais sustentabilidade e eficiência. A única saída era através da adoção brutal de tecnologia. 
Do ponto de vista econômico, olhamos para as quatro principais potências produtoras de alimentos do mundo. Entre Europa, EUA, Canadá e Brasil, nosso país era disparado o que tinha mais espaço para crescer, tanto em nova área plantada como, principalmente, em produtividade nas áreas existentes.

Por fim, é importante ressaltar que havia um aspecto de propósito muito forte. A causa ambiental foi um dos grandes drivers da nossa decisão. Queremos otimizar o uso de recursos hídricos, reduzir o uso desenfreado de agroquímicos perigosos e, via aumento de produtividade, reduzir a pressão pelo desmatamento. Nunca cogitamos um trade-off entre expansão da produção agrícola e o meio ambiente. Sempre acreditamos e apostamos que continuaria a ser alicerçado pela produtividade e a preservação.


2. Como o agronegócio brasileiro reagiu à cultura de startups e inovação?

O agronegócio reagiu de forma muito parecida com o que vimos no setor financeiro em relação às fintechs. Inicialmente, com a desconfiança de um setor que está acostumado a ver a inovação e a disseminação das tecnologias surgirem dentro das empresas já estabelecidas. Mas de três anos para cá, houve um consenso de que as principais inovações e novas tecnologias digitais relacionadas ao uso de satélites, drones, computação em nuvem, mobile, blockchain, financiamentos etc. vêm das pequenas empresas.

A velocidade com que elas lançam produtos e chegam no campo é inquestionavelmente maior. As empresas grandes não conseguem competir em velocidade e agilidade, além de terem menos apetite para risco. 


3. Qual o potencial do agronegócio para gerar um unicórnio no Brasil?

As empresas do agro chegaram um pouquinho atrasadas, se comparadas aos setores que já geraram unicórnios e que atacam problemas nos grandes centros urbanos. Isso acontece porque a conectividade chegou tarde no campo e essa infraestrutura é fundamental para construir negócios exponenciais. O agro também tem uma densidade de ciência misturada com informática muito maior e mais profunda, e está condicionado ao ritmo da sazonalidade. O prazo para você lançar, validar, testar e implementar uma solução é o prazo safra. Tudo é um pouco mais lento.

Mas não tenho dúvida de que teremos vários unicórnios. E há motivos para isso: há uma grande revolução acontecendo, o mercado é enorme, com o Brasil exercendo liderança global. O agronegócio é o único setor relevante da economia brasileira que exibiu crescimento anual de produtividade de mais de 3% nas últimas quatro décadas.


4. Como a pandemia impactou os negócios das empresas investidas pela SP Ventures?

O agronegócio é um mercado cotado em moeda forte, em dólar. Com a depreciação cambial, a renda subiu. Os dois principais afetados foram a indústria do etanol, cujo consumo caiu com a redução da mobilidade, e o mercado de ornamentais, prejudicado pelos cancelamentos de congressos e eventos. Mas estes negócios não são tão relevantes dentro da composição do PIB do agro, como é o caso da produção de grãos, que atravessou a pandemia muito bem. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) previa até março um crescimento de 3,8% no PIB do agronegócio em 2020. Em abril, revisou para 2,4%. O motivo principal, no entanto, não foi a pandemia, mas o impacto da estiagem no Rio Grande do Sul.

As principais tendências que identificamos na SP Ventures e que balizaram nossos investimentos se aceleraram muito. A digitalização por causa da redução da mobilidade e o cancelamento de feiras, com o produtor consumindo mais conteúdo online, facilitou a venda de produtos digitais. E o uso de biodefensivos, que substituem ou complementam agroquímicos, foi impulsionado pela explosão do dólar, uma vez que os produtos produzidos localmente ficaram mais competitivos. Todas essas questões já eram tendências acontecendo, mas a pandemia acelerou o ritmo. 


5. Após pouco mais de quatro meses de pandemia no Brasil, é possível traçar um cenário para as agtechs a partir de agora? Se sim, como deve ser o comportamento do setor?

As agtechs eram vistas pelo mercado como sendo um setor menos explosivo quando comparado a outras startups de tecnologia, devido à ausência de unicórnios. A pandemia acelerou o crescimento delas e ajudou a tirar esse estigma. Outro ponto é a resiliência que o agro e as agtechs mostraram, provando a sua relevância para os investimentos em startups e tecnologia. A palavra resiliência, que não era tão atraente, de repente ficou mais sexy. É o que a turma está chamando de “camelo”, em vez de unicórnio. 

Fonte: ABVCAP News | Agosto 2020


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