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Venture Capital | Startups, transformação digital e home office: uma conversa entre Jorge Paulo Lemann e Pedro Moreira Salles Adicionado em 24/09/2020
 
Segundo os executivos, o país passou por mudanças estruturais nos últimos anos.

Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, não acha que o mundo do trabalho vai migrar de vez para o home office. “Acho que a cultura está no contato pessoal, não no encontro programado. [No trabalho remoto], se você tem uma ideia e quer trocar com um colega, precisa marcar um Zoom. E o acaso se perde”, diz o executivo.

Já para Jorge Paulo Lemann, acionista controlador da Anheuser-Busch InBev, a saída é o meio-termo. “Eu viajava 700 horas por ano em um avião e estou há seis meses sem ir a lugar nenhum. Sigo informado e em contato com todos. Achei uma ótima descoberta”, diz.

Os dois executivos se encontraram digitalmente nesta quinta-feira (24/09), durante o Cubo Conecta, evento de comemoração dos cinco anos de Cubo Itaú. Durante a conversa, discutiram temas como inovação, o ecossistema brasileiro de startups, a transformação digital dos seus negócios, home office e outras mudanças trazidas pela pandemia do novo coronavírus.

Para os empresários, o Brasil passou por mudanças drásticas nos últimos cinco anos. No entendimento dos dois, a digitalização trouxe novos players ao mercado da mesma forma que abriu a porta para a entrada de novos negócios e empreendedores.

Abaixo, veja os principais insights dos empresários:

Home office e o mundo pós-covid

Pedro Moreira Salles:

“Imaginar o futuro é um exercício difícil. Não tenho dúvida de que essa pandemia lançou vários alertas e vários ensinamentos. Sob a ótica de gestão, acho que tem algumas coisas que vão mudar. Primeiro, acho que as empresas que dependem de cadeias de suprimento globais vão rever essas cadeia, porque perceberam que há um risco em estar muito concentrado. Acho que o mundo vai se tornar menos global como reação a esse processo. Sob a ótica do cliente, olhando para aquilo que muitos de nós estávamos procurando desenvolver, que era uma relação remota com os clientes, o aprendizado foi imediato. A digitalização teve um empurrão e isso vai trazer consequências em várias formas de se relacionar. E sob a ótica do trabalho, também. Não acho que o mercado de trabalho vai migrar para o home office de vez. Acho que é um modelo com problemas. A cultura está no contato pessoal, no encontro não programada. Quando você tem uma ideia e quer trocar com o colega do lado, hoje você precisa marcar um Zoom. E o acaso se perde. Isso dito, acho que as empresas vão optar por dar a opção de muito mais gente trabalhar de casa. É um impacto grande. Acho que vamos para um modelo híbrido, escolhendo ficar em casa um ou dois dias por semana, mas acho que o escritório continuará sendo uma coisa importante para criatividade, formação de cultura e muitas características que se perderam nos últimos meses e fazem muita falta.”

Jorge Paulo Lemann:

“Eu não sei direito para onde vai o caminho do home office. Um relatório da Brex, unicórnio brasileiro nos Estados Unidos, mostrou que o resultado foi ótimo e eles não queriam voltar. Ao mesmo tempo, um relatório do JPMorgan mostrou que a produtividade tinha diminuído em algumas áreas. Suspeito que vai ser um meio-termo. Mas o mundo vai encontrar. Tudo vai ficar mais digital. O Zoom é uma tecnologia incrível e que funciona bem. Eu viajava 700 horas por ano em um avião e passei seis meses sem ir a lugar nenhum. Me considero bem informado e em contato com todos. Achei uma ótima descoberta. Ao mesmo tempo, quando se pensa em treinamento, falta contato. Mas acho que vamos nos adaptar ao meio-termo. Já eu não tenho tanta certeza se o mundo vai ficar menos global por causa dessas dificuldades. Depois que passar, acho que a tendência é se globalizar ainda mais, num mundo mais integrado e conectado.”

Ecossistema

Jorge Paulo Lemann:

“Eu acho um espetáculo o que aconteceu nos últimos anos. A quantidade de novos empreendedores e pessoas querendo começar startups aumentou enormemente. Tenho uma filha que toca um fundo de startups e eles analisaram mais de 900 empresas só em 2019. Tivemos várias empresas tecnológicas com uma valorização excepcional na bolsa de valores. E nada como valorização em bolsa para animar novos empreendedores. Também teve a entrada do Softbank no Brasil, o que deu um gás tremendo e animou muito os novos empreendedores. Se eu fosse jovem, me dedicaria totalmente a startup. Mas não sou e preciso carregar um negócio nas costas. Se não fosse por isso, me jogaria de peito aberto no ramo tecnológico.”

Pedro Moreira Salles:

“No mundo do financiamento, você tem esse ciclo do venture capital. Isso veio acontecendo ao longo desses anos. Em 2019, o Brasil foi o terceiro país a mais criar unicórnios no mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. Neste ano, o ritmo acelerou apesar da pandemia. Mas é importante salientar que isso é fruto de uma baixa taxa de juros.”

Gargalos (e oportunidades)

Jorge Paulo Lemann:

“Eu acho que o gargalo do dinheiro diminuiu muito. Há cinco, dez anos, o empreendedor não encontrava recursos, não tinha ninguém para bancar. Hoje em dia, tem até um certo exagero. É falar que você tem uma startup e está cheio de dinheiro querendo te encontrar. Mas o resto dos gargalos são os usuais: burocracia para criar empresa, fechar empresa, contratar gente, demitir gente. É um país complicado se você vai montar uma coisa nova. Mas eu acho, francamente, que estamos indo bem. O número de novos empreendedores está aumentando e o Brasil tem um mercado de consumo enorme, que dá espaço para a criação de novos produtos.”

Pedro Moreira Salles:

“Os gargalos são capital, talento e marco regulatório. Capital vem se resolvendo e acho que não é mais uma questão. Obviamente, tudo depende da taxa de juros para gerar o apetite a risco de que estamos falando. Acho que talento é um problema maior. Não somos um pool de atração global. Você vai no Vale do Silício, por exemplo, e tem gente do mundo inteiro. No Brasil, o número de pessoas que servem às áreas de ciência, matemática e tecnologia é relativamente baixo quando comparado ao mundo desenvolvido. Nós deveríamos fomentar mais ensino de exatas. Por último, a questão regulatória. Quando você olha o emaranhado fiscal e trabalhista… Se é difícil abrir uma companhia, é praticamente impossível fechá-la. E aí o empreendedor carrega por anos essa âncora do passado. Se você olha os Estados Unidos, é o cenário oposto.”

Transformação digital

Jorge Paulo Lemann:

“No nosso caso [na Ambev], o que mais nos afetou nos últimos anos foi o seguinte: éramos eficientes, com produtos conhecidos, logística boa e vivíamos bem. Só que esse novo mundo tecnológico trouxe um acesso maior do consumidor a tudo quanto é informação e a novos produtos. Então, o nosso canal de distribuição teve que mudar muito e nós ficamos conscientes disso um pouco tarde. Não éramos muito ligados no que o consumidor queria e estamos correndo atrás agora, no mundo digital. Nos afetou, mas também nos forçou a correr atrás. Isso é verdade no mundo inteiro. Chegamos atrasados e estamos nos ajustando a esse mundo tecnológico maravilhoso, mas que exige uma adaptação rápida. Isso afeta a cultura da empresa. Pessoas excepcionais que você tinha não são necessariamente as melhores para entender o que consumidor quer nos próximos anos. Precisamos mudar a cultura e estar pronto para criar muitos mais inovações.”

Pedro Moreira Salles:

“Eu acho que sempre teve muita concorrência. A diferença é que de empresas tradicionais a gente entendia melhor e o processo de tomada de decisão para melhorar a competitividade tinha menos riscos. A gente sabia melhor em que direção ir. Acho que isso mudou hoje e que o prazo de resposta ficou muito diferente. Hoje, essas decisões são tomadas num ambiente de maior incerteza, e é preciso aprender a lidar com elas. Uma das coisas que ajuda a diminuir esse risco é se apoiar no ecossistema de startups, ao qual muitas empresas se atrelararm e estão se inserindo. Com tudo isso, você diminui as lacunas e ao longo do caminho você aprende.”


Fonte: Época Negócios


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