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Notícias do Setor

Private Equity | Movimento “go vegan” fisga grandes investidores Adicionado em 12/02/2021
 
Investidores apostam no venture capital para buscar negócios disruptivos com potencial de resolver ou amenizar problemas globais.

Algumas tendências de mercado são passageiras, mas existem aquelas que prometem transformar indústrias de forma profunda — e o veganismo parece estar nesse segundo grupo. De hambúrgueres à base de plantas (plant-based) até leites extraídos de oleaginosas, o mercado global de alimentos veganos cresceu cerca de 20% nos últimos dois anos, passando de 12,7 bilhões de dólares em 2018 para 15,4 bilhões de dólares em 2020.? Se os dados, obtidos pela Euromonitor International, já são positivos agora, o futuro promete números ainda maiores — especialistas dizem que a onda vegana está ainda no início. Entre as previsões de crescimento mais modestas está a da Expert Market Research, que estima que esse mercado avance 9%¹ entre 2021 e 2026 e atinja cerca de 26,1 bilhões de dólares. ?Isso explica por que os investidores — sejam eles gestores de recursos ou pessoas físicas — buscam abocanhar uma fatia de empresas que estão se tornando referência nesse setor.

Por que o veganismo

A decisão dos consumidores de optar por produtos que não sejam de origem animal está sendo impulsionada principalmente por questões de saúde — obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer são alguns dos males relacionados a uma dieta rica em carnes, ovos e laticínios.

Mas há fatores secundários, fortemente relacionados à mudança de visão de mundo dos millennials e da geração Z. Um deles é a conscientização sobre os direitos dos animais, o que aumenta a procura por produtos cruelty free (não testados em animais). Também entra na lista a preocupação crescente com as mudanças climáticas e o impacto ambiental massivo da indústria da carne. ?Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) a pecuária é responsável pela emissão de 7,1 gigatoneladas de CO2 equivalente² por ano, o que corresponde a 14,5% de todas as emissões antropogênicas de gases do efeito estufa.

Veganismo é tendência mundial

Hoje, a América do Norte e a Europa são os maiores consumidores de produtos veganos. De acordo com a instituição The Vegan Society, entre 2012 e 2017 a demanda por alimentos sem origem animal cresceu 987% no Reino Unido. O tema se tornou tão popular que a varejista de livros Waterstones, uma das maiores redes britânicas do setor, registrou em seu catálogo de 2020 cerca de 10 mil títulos que contêm a palavra “vegan” — em 2018, esse número era de modestas 944 referências.

Apesar de o mercado de alimentos veganos ser maior em economias desenvolvidas, ele não está restrito a elas. O Reino Unido, tão proeminente nessa discussão, não é considerado a “capital vegana do mundo”. O título é de Tel Aviv, em Israel, que tem a maior porcentagem de veganos em termos per capita do mundo — 5% dos cerca de 400 mil habitantes da cidade, segundo a organização Israel21c.

No Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, também se observa uma mudança surpreendente nos hábitos alimentares da população. Segundo dados do Ibope, a quantidade de brasileiros que não consomem carne quase dobrou entre 2013 e 2018, totalizando cerca de 30 milhões de veganos e vegetarianos no País.

Ainda que os veganos e vegetarianos no Brasil e no mundo representem uma parcela pequena da população, os alimentos veganos não são exclusivos daqueles que seguem essa dieta: têm uma alta penetração de mercado. Um exemplo é o Reino Unido, onde estima-se que 92% dos produtos plant-based foram adquiridos por não veganos em 2018, de acordo com levantamento da Kantar. Também é válido considerar a popularização da dieta flexitariana (“flexível” e “vegetariana”), que promove uma alimentação livre de carnes, ovos e laticínios na maior parte do tempo, mas não proíbe o seu consumo.

Carne vegetal ou cultivada em laboratório?

A redução do consumo de produtos de origem animal, principalmente da carne, já começa a impactar a indústria de processamento de proteína animal em toda a sua cadeia, da agricultura até o abate e a distribuição. Mas, para preencher essa perda, cada vez mais startups surgem com inovações na produção de produtos similares à carne. Hoje, as duas principais fabricantes de “carne” vegetal são as americanas Beyond Meat e Impossible Foods. Ambas usam produtos derivados de plantas para imitar o sabor e a textura de carne e já fecharam negócio com grandes redes de restaurantes, como Bareburger e Burger King.

Também existem outros métodos para se produzir proteína sem envolver a exploração e a morte de animais, principalmente a partir de cultivo celular em laboratório. Entre os nomes mais conhecidos desse ramo estão a Memphis Meats, a New Age, a SuperMeat e a Aleph Farms. Porém, o principal desafio de todas elas é o mesmo: produzir em larga escala “carne” à base de células cultivadas em laboratório. A israelense Aleph Farms foi a primeira a anunciar ter conseguido desenvolver uma plataforma capaz de cumprir esse objetivo e deve apresentá-la em 2022.

Paralelamente, o que se observa agora é uma corrida entre os maiores players do mercado para ampliar seus portfólios e evitar a perda de market share. A Tyson Foods, por meio do braço de venture capital da companhia (Tyson Ventures), investe em startups como a Memphis Meats e a Future Meat Technologies, além de desenvolver uma linha própria de produtos plant-based. Já a Unilever preferiu adquirir a holandesa The Vegetarian Butcher, enquanto a Nestlé fez o mesmo com a Sweet Earth, que produz uma variedade de alimentos veganos.

Aposta do venture capital

A pandemia de covid-19 evidenciou uma série de questões preocupantes que podem impactar a economia mundial. Como resultado, estimulou a transição de recursos para investimentos de impacto e sustentáveis, com potencial de resolver ou amenizar problemas. Nesse cenário, o venture capital se tornou a principal escolha de investidores em busca de negócios disruptivos.

Em janeiro, a Blue Horizon Ventures, empresa de capital de risco voltada à indústria de alimentos sustentáveis, estruturou um fundo de 183 milhões de euros que investirá em startups, desde aquelas voltadas à produção de proteínas alternativas até o desenvolvimento de embalagens inteligentes. Segundo a Blue Horizon, a meta inicial era arrecadar 100 milhões de euros, e o fundo já está fazendo aportes em startups como The Livekindly Co., produtora de carnes vegetais, e a Mosa Meat BV, que cultiva carnes em laboratório.

Outro fundo de capital de risco com foco em investimentos plant-based é o Veg Capital. Criado em 2020, o fundo britânico tem tíquetes de investimento que variam de 50 mil libras a 250 mil libras. Segundo o Vegan Business, o Veg Capital se uniu ao investidor-anjo Christian ‘Crica’ Wolthers para ampliar seus investimentos no mercado brasileiro, principalmente em foodtechs.

A próxima Beyond Meat

Em seu dia de estreia na Nasdaq, a Beyond Meat tinha ações negociadas a 25 dólares — ao final do pregão, os papéis já valiam 65 dólares, resultado que classificou a oferta inicial de ações da empresa como o melhor IPO de 2019.

Isso mostra o interesse no mercado plant-based e incentiva a busca por companhias com o mesmo potencial da Beyond Meat. Até mesmo um ETF voltado a investidores alinhados com as ideias por trás do veganismo foi criado — o VEGN. O ETF evita investimentos em empresas cujas atividades contribuam diretamente para o sofrimento animal, destruição do meio ambiente e mudanças climáticas. Além da Beyond Meat, acompanha as ações de bigtechs, entre elas Apple, Microsoft e Facebook. Entre setembro de 2019 e 2020, intervalo de um ano após seu lançamento, o ETF superou o S&P 500 — registrou retorno de 27,7%, enquanto o S&P ficou em 19,6%.

Segundo a Bloomberg, a mais nova promessa que entra no radar do mercado de capitais é a sueca Oatly AB, fabricante de alimentos e bebidas veganas — a empresa busca uma uma possível listagem nos Estados Unidos.

¹Considerando a compound anual rate growth (taxa composta anual de crescimento)

²A medida inclui, além do carbono, a concentração de outros gases de efeito estufa

Fonte: Capital Aberto


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