Mas para adicionar valor, é preciso ir além da busca pela métrica
A pandemia nos ensinou o grau de interdependência das relações econômicas e sociais. Já percebemos uma nova mentalidade, que faz o impacto das iniciativas privadas avançar para discussões mais amplas. O tema desperta cada vez mais o interesse de investidores.
A demanda por investimentos que valorizam o impacto social e ambiental exige mais rigor e transparência na gestão e mensuração dos resultados, ainda vistos como ‘calcanhar de Aquiles’. A boa notícia é que as práticas tornaram-se mais sofisticadas com o avanço dos atores na construção de consenso para fortalecer sua integração nos processos de investimento, como visto no relatório “The State of Impact Measurement and Management Practice” (GIIN, jan 2020). Mas ainda precisamos evoluir a dimensão de impacto das funções exclusivas de report e compliance para uma ferramenta estratégica de gestão. A mensuração fornece uma fotografia do desempenho, mas somente a prática de Gestão de Impacto é capaz de avançar da foto para um filme.
A gestão de impacto segue a mesma lógica da gestão financeira de um ativo, com etapas que vão da definição da estratégia ao report dos resultados. E nesse sentido, há abordagens e ferramentas que suportam diferentes necessidades. Para quem está começando a pensar em estratégias de impacto nos investimentos, como o IRIS+, que apoia o desenho de teses, sendo possível vinculá-las com os ODS, e o Impact Management Project (IMP), que propõe a classificação dos objetivos do investimento em uma régua ABC. Já quando se trata de impacto da empresa, o IMP estabelece 5 dimensões para análise: O Quê, Quem, Quanto, Contribuição e Risco.
A definição das métricas de impacto ainda gera muitas dúvidas. Na Vox, utilizamos a Teoria da Mudança e as 5 dimensões do IMP para direcionar e organizar indicadores customizados, e o Impactômetro, que posiciona a profundidade de impacto a ser adotada em harmonia com a maturidade do negócio investido. Para indicadores padronizados, o IRIS+ fornece um catálogo segmentado por setor e temas. E para os investimentos sustentáveis, o SASB promove a materialidade como importante perspectiva para correlacionar os fatores ESG com os tópicos relevantes das operações.
As boas práticas de governança tornaram essencial a validação dos dados contábeis e financeiros por auditores externos. Para performance de impacto, o caminho deve ser semelhante. Para qualificação dos fundos de investimento, tem surgido plataformas como a IMP+Act e a SDG Impact. Essa última propõe certificação customizada por classe de ativos e selo chancelado pela UNPD.
Ainda há muitos desafios, como a falta de transparência no desempenho de impacto, o frágil acompanhamento dos resultados e a ausência falta de benchmarks. É necessário trazer mais clareza da contribuição social e ambiental dos investimentos.
Em uma nova ordem social mais abundante e equitativa, cabe ao fluxo do dinheiro gerar retorno aos acionistas, e também nutrir a sociedade e valorizar o meio ambiente. Evoluir para uma mentalidade que coloque o impacto no centro do processo de tomada de decisão e planejamento estratégico dos portfólios é essencial. E a Gestão de Impacto é o caminho.
Jéssica Silva Rios
Sócia e Head de Gestão de Impacto da Vox Capital, gestora pioneira de investimentos que oferece soluções financeiras competitivas que valorizam a experiência humana e o planeta.