1- Você acompanhou o nascimento da ABVCAP, participou ativamente desde as primeiras iniciativas de PE&VC no País, como investidora pelo BID FUMIN e como incentivadora da criação do ecossistema, com o programa INOVAR -- como você vê o ecossistema de seed, PE&VC no país hoje?
SGR: Para mim, é um grande orgulho ver como Brasil continua desenvolvendo a indústria. Quando eu comecei, o grande tema era ter uma massa crítica de gestores de fundos experientes, além de investidores e empreendedores que entendessem os ABCs desse tipo de investimento. Hoje o Brasil tem gestores com vários fundos investidos, há essa massa crítica de empreendedores e de investidores e há muitas histórias de companhias investidas bem sucedidas. Existem investimento em seed, mas ainda fica uma lacuna entre os tíquetes de VC e PE, e isso é uma tarefa pendente para a indústria no Brasil.
2- Temos gestores com track record, a maioria dos unicórnios da América Latina é brasileira, os brasileiros são consumidores vorazes de tecnologia. O que falta para o Brasil ampliar os investimentos em PE&VC?
O Brasil ainda está muito focado no Brasil, e tem que se abrir mais ao resto da América Latina e ao mundo. Os investidores querem diversificar a suas exposições em países em função dos riscos macroeconômicos e políticos, e embora Brasil siga sendo muito atraente, ter fundos com teses mais regionais pode ser um bom caminho. A ABVCAP tem uma grande tarefa de disseminação das muitas histórias de investimentos bem sucedidos e que receberam capital estrangeiro para ajudar a posicionar o Brasil no mundo global de VC.
3- Como o marco regulatório de PE&VC pode avançar no Brasil, chegando mais perto do que existe em outros países?
O Brasil, com o apoio da ABVCAP, tem feito muito progresso nos marcos regulatórios, mas a burocracia e a complexidade ainda podem ser um problema para o investidor estrangeiro. O investidor tem que encontrar as boas práticas internacionais adaptadas aos mercados locais. Quando não as encontra, prefere investir em mercados mais conhecidos e padronizados. Uma força-tarefa entre o setor público e o setor privado deveria ser criada para avançar nesses temas.
4- Quais os desafios para o capital privado a partir de agora, no mundo pós-pandemia? Os investidores se tornarão mais seletivos?
Os investidores certamente estarão mais seletivos e vão querer garantir que os gestores tenham a capacidade de investir em um mundo com pandemia, seja a COVID-19 ou a próxima. Acho que será um grande momento para que os investimentos se concentrem em indústrias resilientes, que atendem necessidades reais e que podem melhorar as condições de muitas pessoas: acesso a financiamento, educação, saúde, água limpa. A prioridade será atender necessidades básicas (MUST HAVEs) e não tanto necessidades relacionadas ao consumo mais supérfluo (NICE TO HAVEs).
5- Olhando os gaps que o Brasil tem, quais setores sairão mais atrativos a partir de agora?
A tecnologia tem sido validada como a ferramenta ideal para continuar a vida em tempos de pandemia! Ha setores que hoje são mais relevantes. Mas também nos setores que não são tão atraentes, se você tem um empreendedor que sabe como mudar a empresa e se adaptar às novas realidades, provavelmente essa companhia sairá muito bem da crise.