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Notícias do Setor

Oxygea entrevista Solos: o que o CVC de uma petroquímica pode aprender com uma startup de impacto da Bahia Adicionado em 30/01/2024
 

Nas reportagens da série Investidor entrevista Startup, o head de um fundo (de Venture Capital, Corporate Venture Capital ou Private Equity) escolhe uma startup e entrevista seu founder ou CEO. Neste episódio, Época NEGÓCIOS convidou Artur Faria, CEO da Oxygea Ventures, o fundo de CVC da petroquímica Braskem.

Criada em setembro de 2022 e com sede no Cubo, em São Paulo, a Oxygea atua em três frentes: como fundo CVC de US$ 100 milhões para o investimento em startups maduras, como incubadora de projetos nascidos dentro da Braskem, e como aceleradora de startups por meio do programa Oxygea Labs, criado no ano passado. Seu foco de atuação é em sustentabilidade e transformação digital.

Para esta reportagem, Faria escolheu bater um papo com a jovem empreendedora baiana Saville Alves, cofundadora da Solos, startup de impacto que trabalha com economia circular e é fornecedora da Braskem.

Fundada em 2018 por Saville e a amiga Gabriela Tiemy, a startup atua junto aos setores público e privado no desenvolvimento de projetos que otimizam o processo de reciclagem. Em poucos mais de cinco anos de atuação, já realizou parcerias com marcas como Ambev, Heineken, Ifood, Nubank e Coca-Cola, e coletou mais de 1.100 toneladas de resíduos, impactando positivamente 6 estados e gerando mais de R$ 2,5 milhões em renda para cooperativas de catadores.

Confira a seguir os principais trechos da conversa.

[Artur Faria] Conta um pouquinho sobre você e sua trajetória. Quem é a Saville?

[Saville Alves] Eu sou baiana, soteropolitana. Eu adoro ter nascido no lugar onde eu nasci. Eu acho que você tem uma conexão com um território onde você tem referências, tem uma cultura de base, ali tem pessoas que fazem parte do seu afeto, da sua rede de apoio. Acho que isso é bastante significativo, principalmente para uma empreendedora mulher.

Comecei a empreender na Solos com 25 anos. Sou formada em comunicação social pela universidade federal. Depois eu tive a oportunidade de trabalhar no mundo corporativo, na Oi e na própria Braskem, em que eu fui estagiária. Eu entrei na Braskem com 20 anos, eu não tinha intencionalidade nem de empreender, nem de trabalhar com a economia circular. Naquela época, inclusive, nem se falava muito nisso. Foi algo que o passar do tempo e a própria experiência na indústria foram ativando partes em mim. E aí, depois de algumas vivências, principalmente nas periferias, nas favelas, eu entendi como é o problema do saneamento no Brasil. E o lixo passou a ser algo que me incomodava mesmo. Eu sei que ninguém gosta de lixo, mas daí você tem causas que te sensibilizam mais ou menos. Essa foi uma que acabou me sensibilizando bastante. Aí eu comecei a mergulhar e hoje estamos aqui, fazendo a reciclagem acontecer.

Se você fosse seguir um padrão do mercado de venture capital, você estaria fazendo diversos rounds de captação e crescendo com recursos externos. A Solos fez algo diferente. Como e por que você definiu esse modelo de negócio, de bootstrap, ou seja, crescer com as próprias pernas, com os próprios recursos, não conceder equities para externos?

Acho que tem duas coisas. A primeira é que a gente começou solucionando e depois vendo como. Em vez de criar produto tecnológico, que iria depois ser testado, a gente foi primeiro para campo, para a operação. Primeiro a gente foi entender que mercado era esse da logística reversa, da economia circular, quais eram os gargalos. Se todo mundo sabe o que significa reciclagem, então, por que a gente só recicla 4%? Isso fez com que os investimentos para a tecnologia fossem um pouco mais assertivos.

O outro ponto é a cultura de venda. A gente aqui nasceu, e espero que sejamos assim por muitos e muitos anos, até quando fizer sentido a Solos existir, para vender soluções para quem vai colocá-las em operação. A gente tem cultura muito forte de venda comercial, eu preciso rodar comercialmente. Isso fez também com que eu não tivesse uma necessidade urgente de caixa. Não é assim: ‘vou fechar daqui a 6 meses, um ano, porque eu não estou vendendo, porque minha solução não emplacou’.

Acho que a combinação de cultura de venda, mais ir para operação e conseguir trazer mais eficiência na hora do desenvolvimento tecnológico fez com que a gente conseguisse estar há quase 6 anos no modelo de bootstrap. Mas também eu acho que em algum momento vai chegar a necessidade [de fazer uma captação de recursos].

Eu tenho um negócio também na pessoa física, também faço bootstrap já tem mais ou menos uns 5 anos, então sei das dificuldades e dos aprendizados. Que dificuldades você teve rodando esse modelo há quase seis anos? E os aprendizados que você teve nesse processo? E você indica isso para quem está começando hoje?

O que eu fui entender dentro do meu cercadinho aqui é eu tive várias vantagens competitivas que o mercado vai estabelecendo. Eu sou uma pessoa branca, tive acesso à educação formal, estudei sempre em escola particular, morei com os pais... um monte de coisas que me fazem ter um arcabouço e uma rede de contatos.

Mas quando a gente vai se projetando numa escala nacional, eu já perco alguns atributos. Eu sou nordestina, sempre parece que meu negócio é menor do que outros negócios, mesmo que eu fature mais, mesmo que eu tenha mais margem de lucro. Eu sei dos meus privilégios, das oportunidades que eu tive, mas também fui entendendo esses gargalos.

O que eu acho que tem feito muita diferença são os ecossistemas de fomento. Para quem é bootstrap, embora não esteja aberto ali para receber um investimento com equity, esses ambientes conseguem gerar oportunidades – de negócio, de fechar clientes, de parcerias, editais que têm ali um recurso que você pode desenvolver. A gente já recebeu alguns recursos que a gente pôde utilizar para desenvolvimento tecnológico. Não é necessariamente dinheiro saindo do meu bolso, ou eu precisando vender percentual da minha empresa.

Mas também escuto de alguns colegas meus que, às vezes, esses ambientes têm muitos marcadores sociais. O linguajar é todo em inglês; então, algumas pessoas que não têm domínio não conseguem acessar. Ou ele é muito embranquecido, ou ele precisa que você se desloque para São Paulo, e isso acaba gerando um custo – principalmente pré-pandemia, quando o home office não estava tão usual como é hoje. Então, eu entendo que vai depender de contextos sociais do empreendedor.

Eu acho que para mim, o início foi um pouco mais tranquilo. E hoje eu vejo mais gargalos na hora do crescimento. O fato de ser mulher e estar aqui no Nordeste são os gargalos.

Talvez esse tenha sido um motivador para que você fizesse o bootstrap?

Foi um motivador, porque essa realidade é mais distante. Por exemplo, eu vou para São Paulo a cada 10 dias, hoje em dia é a minha realidade. Nos ambientes em que eu estou, quando eu vou no InovaBRA, no Cubo, etc., meus colegas empreendedores falam muito sobre investimento. Aqui a gente não tem essa cultura, isso não é algo que nos acessa. O Nordeste e o Norte são muito pobres, muito desiguais. A ascendência econômica é muito mais difícil porque as oportunidades são muito mais escassas. Você vê em São Paulo mais possibilidade de mobilidade social e a cabeça para ter acesso a recursos é muito mais do dia a dia.

Eu vou só chamar atenção para um ponto que você trouxe: olhar linhas de fomento para desenvolvimento de novas tecnologias e soluções é extremamente relevante. A gente vê hoje uma miopia de muitas startups que estão presas ao padrão do VC round, nem olham o que tem disponível.

Você comentou que, para crescer, vai precisar, em algum momento, buscar esse capital de terceiros. Hoje, se você fosse buscar investimento externo, quais seriam os requisitos? Para sair do modelo de bootstrap, para de fato embarcar um sócio ou sócios, fazer uma rodada de investimento, quais sinergias você espera?

Eu acho que o primeiro ponto é fazer um partner com alguém que entenda que a gente trabalha por impacto. Nós somos uma startup de impacto, então nossas operações existem para fazer a reciclagem acontecer de maneira socioeconomicamente inclusiva com os catadores das cooperativas. Eu gostaria de estar junto com alguém que já investe com impacto e que talvez já tenha alguma carteira na área de sustentabilidade. Não necessariamente de economia circular, mas que já entenda um pouquinho desse mercado de sustentabilidade.

E, depois, é entender um pouco de cultura, são aspectos mais ‘soft’. Acho que isso é o que faz com que qualquer parceria seja longeva – seja de time, seja com o cliente, seja com fornecedor, com um sócio investidor ou um sócio que fundou junto contigo. A gente já recebeu algumas propostas e nenhuma chegou numa fase mais avançada porque não tinha nada a ver com a Solos. E investidor não é alguém que vai passar aqui, mesmo que tenha outras rodadas. É alguém que vai permanecer por algum tempo e precisa ter um algum nível de afinidade.

A gente tem a mesma visão, só que do lado de cá da mesa. No final das contas, é um casamento. É preciso que, de fato, seja uma pessoa que esteja alinhada e que traga esses aspectos soft, nessa troca extremamente relevante. Abrir portas, ajudar com a gestão e tudo mais é super legal, super relevante, mas tem que ter esse quê a mais. E ter essa troca é extremamente relevante.

Eu queria pedir para você dar uma dica para quem está lendo, para novos empreendedores, quem está começando, pensando em colocar de pé um negócio agora.

Minha dica é, sem dúvidas, trabalhar em rede. Você precisa encontrar pessoas, parceiros, instituições que vão colaborar para que você coloque esse negócio de pé, organize esse negócio, depois cresça seu negócio, depois venda seu negócio. Para mim é o grande segredo. As operações ficam mais eficientes quando a gente coloca mais atores envolvidos. Eu agora estou no hub Salvador, que é um super coworking de inovação.

E a outra dica é: olhem para os números. Eu sou de humanas, mas o empreendedor precisa saber dos números. Todos os números: saber o que entrou, o que saiu, por que, o que você consegue ser mais eficiente, o que você consegue investir. No meu caso, também os números de impacto: quais são os resultados de transformação para a sociedade? Quantas tonelada a gente está coletando? Quanto de renda a gente está gerando na cadeia?

Fonte: Época Negócios


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