A gestora de private equity não revelou o valor da transação mas disse que comprou mais de 50% do capital e que a operação teve uma parcela primária e outra secundária.
Maria Claudia Lacerda, que controlava a Skala; Antonio Sousa, que foi o CEO da empresa nos últimos oito anos; e Públio Emílio Rocha, um adviser da família, vão continuar como acionistas minoritários — com Antonio assumindo um assento no conselho.
Rafael Patury, o sócio da Advent na América Latina responsável por varejo e consumo, disse que a gestora buscava há anos uma empresa do setor de beleza no Brasil — depois de ter investido com sucesso na Olaplex nos Estados Unidos e levado a empresa para a NYSE.
“É um setor que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano no Brasil e que cresce acima da inflação, a taxas de 7% a 8%,” Patury disse ao Brazil Journal. “Ele cresce assim muito pela inovação e pelo uso de novos produtos pelas consumidoras. Antes, por exemplo, se usava só o shampoo, depois veio o condicionador, e depois o creme de tratamento.”
Ao mesmo tempo, o setor de beleza é muito fragmentado, com as maiores empresas ainda detendo um market share pequeno.
A Skala foi fundada em 1986 em Uberaba, Minas Gerais, e adquirida em 2005 por Oscar Lacerda — o pai de Maria Cláudia — e um grupo de empresários da região. (Os demais acionistas estão saindo na transação de hoje).
A marca sempre foi voltada para a base da pirâmide, apostando em produtos veganos destinados à mulher brasileira, que majoritariamente tem cabelos ondulados e cacheados e sempre foi negligenciada pelas multinacionais do setor.
A partir de 2015, com a morte de Oscar e a entrada de Maria Cláudia no dia a dia da operação, a Skala também começou a trabalhar mais forte na construção de sua marca no mundo digital, atingindo mais de 3 milhões de seguidores no Instagram e criando uma percepção de qualidade entre suas consumidoras.
No ano passado, a companhia teve um faturamento bruto de mais de R$ 1 bilhão com um share de 52% em cremes de tratamentos, mais do que as três grandes multinacionais do setor (P&G, Unilever e L’Oréal).
Parte do atrativo está no preço. Enquanto a Skala cobra em torno de R$ 11 por um pote de 1 kg de seu creme de tratamento, as gigantes do setor cobram quase o dobro, na faixa dos R$ 20.
(O creme de tratamento é um produto usado depois do shampoo e do condicionador que ajuda na nutrição dos fios).
“Esse mercado sempre teve empresas muito boas atuando no topo da pirâmide, mas não tinha nenhuma muito boa focando na base,” disse Antonio, o ex-CEO. “Achamos que a Skala tinha condições de ocupar esse espaço e conquistar esse cliente, que também quer bons produtos e qualidade.”
Além do creme de tratamento, que responde por cerca de 65% da receita, a Skala também produz shampoos, condicionadores, desodorantes e uma linha de produtos infantis. No total, são mais de 150 SKUs.
Com os novos recursos, o plano da Advent é aumentar a capacidade fabril e investir em novos centros de distribuição.
Hoje, a Skala tem apenas uma fábrica em Uberaba. A Advent não abre nem a ociosidade nem seus planos de expansão, mas Patury disse que “a marca é bem maior que o seu faturamento hoje.”
“Ao aumentar a capacidade fabril, acho que conseguimos crescer muito e reforçar as categorias onde eles já atuam,” disse o gestor.
Outro plano é acelerar a internacionalização. A Skala já exporta para a América Latina, Europa e Estados Unidos, mas essas vendas respondem por apenas 10% do top line — uma fatia que deve crescer muito nos próximos anos, dado que as vendas internacionais estão se expandindo num ritmo maior que as domésticas.
O primeiro movimento da Advent foi trazer um novo CEO: Cyro Gazola, um executivo que ficou 22 anos na P&G, onde trabalhou na Ásia, Europa e América do Norte. Mais recentemente, ele foi o CEO da Mondelez no Brasil, da Philips e da Caloi.
Segundo Patury, um dos pontos que influenciou na decisão foi a experiência internacional de Cyro, que deve ajudar nos planos para a Skala. Para o conselho, a Advent também trouxe Alberto Carvalho, o ex-CEO da P&G no Brasil e ex-head da Gilette nos EUA, e Andrea Mota, a ex-diretora executiva do Boticário.
Os dois também eram do conselho da Kopenhagen quando a Advent controlava a empresa.
A Advent fez o investimento por meio de seu fundo LAPEF VII, que levantou US$ 2 bilhões em 2020 para investir na América Latina. O fundo já investiu na Tigre, Merama e Ebanx no Brasil, e na Neoris, no México.