A gestora de private equity, que tem Jorge Paulo Lemann como investidor, vendeu 32% do Salta para a Atmos Capital, a gestora de ações com R$ 15 bilhões sob gestão, a Mission Co., uma gestora recém-criada por três ex-sócios da Gávea (um deles ex-executivo da Gera), e para o Warburg Pincus, que já era investidor da empresa.
Após a transação, a Gera vai ficar com 23% do capital, a Warburg Pincus com 28%, a Atmos com 19%, a Mission Co. com 11% e o management da companhia com os outros 9%.
A transação saiu a um múltiplo de mais de 10x o EBITDA do Grupo Salta, um pouco abaixo dos cerca de 15x de transações privadas do segmento no exterior. A venda – feita pelo fundo I da Gera, que investiu na empresa há 10 anos – deu um retorno de 35% ao ano para os cotistas, quase 10 vezes o capital investido. Parte desse retorno veio porque a Gera devolveu capital aos cotistas quando vendeu seu portfólio de escolas premium para a Inspired por cerca de R$ 2 bilhões em 2022. A Gera também participa do Salta por meio de seus fundos II e III, que investiram na empresa em 2017 e 2020.
O Grupo Salta foi criado do zero pela Gera, que levantou capital com famílias de peso, como os Lemann, para perseguir uma tese de consolidação do ensino básico no Brasil – um mercado de mais de R$ 100 bilhões e 9 milhões de alunos, mas ainda extremamente fragmentado.
O Salta começou com duas redes – o Pensi e a Elite – que juntas faturavam cerca de R$ 100 milhões e tinham 10 mil alunos. Dez anos depois, a empresa vai faturar R$ 2,3 bilhões este ano – considerando as matrículas já feitas – com uma margem operacional no nível das escolas de cerca de 30%.
Bruno Levacov, sócio da Atmos, disse ao Brazil Journal que acompanha o projeto do Salta desde o início e que a empresa conseguiu aliar crescimento, sustentabilidade financeira e qualidade – algo difícil de encontrar em teses de consolidação.
“Muitos dos players financeiros olham para crescimento e rentabilidade – e não tanto para a qualidade – porque estão mais focados no curto prazo, em construir algo para vender ou fazer um IPO, e a qualidade tem custo,” disse o gestor. “A Gera não. Ela focou nas três dimensões, com um investimento muito grande na qualidade de ensino, que é o que vai permitir gerar um resultado sustentável no longo prazo. É um olhar de dono que poucos fundos têm.”
Duda Falcão, uma das fundadoras da Gera e hoje chairwoman da companhia, foi co-CEO do Salta de 2013 até 2022, junto com Bruno Elias, que está no comando há mais de 10 anos. Rafaela Dantas, a outra fundadora, foi chairwoman e continua no conselho. A terceira sócia é Leila Orenstein, que está na Gera desde 2011.
Depois da transação, a Gera seguirá liderando o conselho e as decisões estratégicas da empresa. Nada muda no management.
Duda disse que a oportunidade no setor continua enorme. O Salta tem um market share de pouco mais de 2% num setor que ainda é pouco profissionalizado e com muitas escolas familiares.
O plano da companhia é continuar crescendo organicamente, abrindo de 15 a 20 novas escolas por ano, e fazendo aquisições. Este ano, a meta é comprar duas novas marcas.
O track record joga a favor. O Salta já fez diversas aquisições e abriu quase 70 unidades só nos últimos cinco anos, com níveis de maturação positivos.
“Para esse plano de negócios, não precisaríamos de uma injeção de capital nova. Dá para fazer com a geração de caixa do negócio,” disse Duda. “Mas nunca fizemos as coisas pelo business plan. Temos a filosofia de underpromise and overdeliver. E para criar coisas novas, para ir além, vamos precisar de mais capital.”
Segundo ela, esse capital poderá vir dos atuais acionistas ou por meio de um IPO, um plano antigo da empresa, que Duda disse que continua no radar.
“Não vamos nunca abrir unidades ruins. Mas dependendo da nossa capacidade de execução podemos levar essas 15, 20 unidades por ano para 30,” disse Rafaela.
Outra possibilidade, segundo elas, é uma transação transformacional, com a fusão com outra grande rede do setor.
A opção mais óbvia seria a Bahema, que além de ter redes de escolas com perfil semelhante ao do Salta – com mensalidades de R$ 800 a R$ 3,5 mil e focadas na classe média.
Levacov, da Atmos, disse que ao criar o Salta a Gera teve uma visão de negócio que não era óbvia mas se mostrou certeira, e que agora a empresa deve se beneficiar por ter sido a primeira a fazer esse movimento.
“O player dominante, que largou na frente, sempre está mais preparado para se beneficiar da segunda onda de crescimento, porque ele tem gente dentro de casa para fazer o crescimento, tem a parte de treinamento dos professores estruturada, tem diretor para colocar nas novas escolas,” disse o gestor da Atmos. “É uma diferenciação que cria uma defesa muito grande e um delta para o segundo e terceiro player.”
Além do Grupo Salta, a Gera já fez outros dois investimentos: na Edify, um sistema de ensino de inglês para escolas básicas, e na Vitus, uma rede de clínicas ortopédicas focadas em fisioterapia.
Agora o plano é levantar um fundo de R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão para investir em cinco a seis empresas. Rafaela disse que o fundo será agnóstico em termos de setores, mas que naturalmente a Gera vai aplicar a expertise adquirida nos setores de educação e saúde.