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Notícias do Setor

A relevância do Corporate Venture Capital para a inovação no ecossistema de startups brasileiro Adicionado em 24/02/2024
 
O mercado de investimentos em startups no Brasil finalmente alcançou um nível de amadurecimento importante, após passar diversos estágios e desenvolvimento nos últimos 15 anos. Após um período de aparente reorganização do setor, que passou por eventos relevantes, como a retração mundial nos investimentos de venture capital que o mercado batizou de o “inverno das startups”, até as renegociações para a redução do valor das empresas (down-rounds) decorrentes dos investimentos realizados em 2021 – ano em que todas as expectativas e volumes de negócios ultrapassaram as melhores estimativas de especialistas –, tudo indica que estamos no início de mais um círculo virtuoso de grandes negócios, que devem ocorrer já no início de 2024.

Dentro desse contexto, o Corporate Venture Capital (CVC) tem se destacado como uma importante ferramenta para promover a inovação aberta e fortalecer o ecossistema de tecnologia no Brasil, consolidando-se como uma opção de grande relevância aos já conhecidos aportes realizados por fundos tradicionais de venture capital. Atualmente, o CVC possui um papel fundamental no aumento dos investimentos realizados nos setores de tecnologia e inovação, por meio de aportes e parcerias entre grandes corporações, conglomerados e as startups que buscam o investimento, impulsionando a inovação em setores-chave da economia, como saúde, finanças e educação.

O cenário de inovação no Brasil continua a apresentar uma trajetória de transformação constante e significativa nos últimos anos, evidenciado pelo aumento substancial no número de startups fundadas na região. O CVC facilita a aproximação entre startups e grandes empresas, principalmente por oferecer aportes financeiros e apoio ao crescimento de negócios incipientes e em rápido desenvolvimento, ao mesmo tempo em que apresenta oportunidades de negócio de novos produtos e serviços que podem ser aproveitados por corporações sem a capacidade (ou know-how) para fazer tais avanços na mesma velocidade, destacando-se como uma alternativa relevante para captação de recursos. Segundo pesquisa conduzida pela Bain & Company, a quantidade de operações envolvendo essa modalidade de investimento cresceu, em média, 19% ao ano, durante o período compreendido entre 2015 e 2021.

O CVC permite que grandes corporações invistam em startups alinhadas aos seus interesses estratégicos com as inovações desenvolvidas por essas empresas emergentes. Isso proporciona uma série de vantagens, tanto para as startups quanto para as corporações.

O nível de participação de um CVC em uma startup pode ser mais profundo do que aquele adotado por um fundo de venture capital (VC) tradicional, uma vez que inclui a avaliação das sinergias potenciais entre as empresas envolvidas. Além disso, os valores das rodadas de investimento tendem a ser menores em comparação com um fundo de VC. O conhecimento de mercado dos gestores de um CVC pode ser crucial para o fundador de uma empresa mais jovem, trazendo-lhe uma experiência valiosa para ser aproveitada pela startup, além do valor do próprio investimento em si.

Muitas vezes, as startups enfrentam desafios financeiros significativos durante sua jornada de crescimento, principalmente em seus estágios iniciais (early stage). O CVC entra em cena fornecendo o capital necessário para que essas startups possam expandir suas operações e desenvolver suas inovações de maneira mais eficaz, tendo em vista que os principais investidores CVCs são formados por grandes corporações ou grupos comerciais, já estabelecidos no mercado e com uma extensa trajetória de atuação e expertise qualificada, especialmente em relação à administração dos negócios e gestão dos desafios enfrentados pelas startups. Além disso, as empresas que participam do CVC trazem consigo uma vasta experiência em gestão, bem como recursos valiosos que podem ser aproveitados pelas startups, auxiliando no aprimoramento de suas estratégias e processos.

Outro aspecto fundamental é a validação de mercado que o CVC oferece. Quando uma grande empresa opta por investir em uma startup, tal operação representa para a investida uma espécie de “carimbo de aprovação” para sua proposta de valor. Esse respaldo substancialmente impulsiona a credibilidade da startup perante seus clientes e possíveis investidores (atuais ou futuros), desempenhando um papel crucial no crescimento duradouro e orgânico da empresa em ascensão, facilitando investimentos futuros e novas rodadas de investimento.

Adicionalmente, o acesso aos clientes e mercados constitui uma vantagem estratégica que as corporações proporcionam às startups por meio do CVC. Frequentemente, as grandes empresas possuem uma base de clientes consolidada e já estabeleceram sua presença no mercado. Isso abre portas para oportunidades de expansão às startups, permitindo que elas atinjam um público mais vasto e diversificado.

Mas engana-se quem possa pensar que tais negócios representam apenas vantagens às startups, uma vez que as empresas que constituem os seus CVCs passam a ter acesso a um capital humano e intelectual altamente desenvolvido e desprendido de procedimentos, estrutura organizacional e amarras mais arraigadas das grandes instituições. Com uma mentalidade voltada para melhor endereçar a solução para um problema ou uma novidade de grande repercussão no mercado, as grandes empresas por vezes podem ter acesso a novos produtos realmente disruptivos que foram desenvolvidos em meses, sendo que em seus ambientes mais consolidados levariam anos, como foi o caso da aquisição, pela Microsoft, da OpenAI, empresa que desenvolveu o ChatGPT, por bilhões de dólares.

Em face de tais pontos, a parceria entre startups e corporações no contexto dos investimentos em CVC representa um valioso processo de aprendizado e intercâmbio de conhecimento. Essa colaboração viabiliza o compartilhamento de conceitos, filosofias, culturas corporativas e operacionais, e conhecimentos especializados. As startups podem se beneficiar do vasto know-how das corporações, enquanto estas têm a oportunidade de absorver a agilidade e a mentalidade inovadora e tecnológica daquelas. Esse intercâmbio mútuo de ideias impulsiona a inovação e o crescimento sustentável, criando um ambiente propício para a concepção de soluções inovadoras e o avanço do ecossistema empreendedor.

O CVC desempenha um papel vital na promoção da inovação e no crescimento do mundo de “negócios nascentes” no Brasil. A colaboração entre grandes empresas e startups oferece oportunidades únicas para o desenvolvimento econômico e a criação de soluções inovadoras para os desafios do país, fomentando a economia e o crescimento de investimentos.

*Felipe Barreto Veiga é sócio fundador; Rafael Ferrão Teixeira é sócio; George Leandro Luna Bonfim é coordenador das práticas de Venture Capital e Privacidade; e Renata Chamlian Anspach é advogada da área de Societário e M&A no Barreto Veiga Advogados.

Fonte: Epoca Negócios


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